quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Uma parceria com Paulo Ciranda!

Do poema nasceu a música e a música é uma obra lindíssima do querido Paulo Ciranda.

Cantiga para Minha Mãe

minha mãe canta
sua canção de ninar
e me faz sonhar
por uma vida inteira

saudade de seus braços
de sua mamadeira
e seu olhar meigo

saudade de seu colo
de suas brincadeiras
e suas mãos fiandeiras

mamãe estou aqui
rezando por ti
que sofre essa dor
tão longe de mim

sábado, 19 de novembro de 2016

Sobre minhas vidas passadas e porque não, futuras?

Por Jiddu Saldanha

Não conheço ninguém que tenha tido uma vida passada que não fosse de riqueza e poder. Eu mesmo já fui um centurião aposentado na antiga Roma, um poeta da corte de Henrique V, na Inglaterra, e parece que quando Trotski mandou matar a família real russa, eu era um conde riquíssimo que foi perdoado e desterrado para viver na Hungria, onde tornei-me um grande bem feitor e riquíssimo dono de imóveis e terras. Parece que a sacanagem começou quando nasci no Brasil.
Aliás, outro dia eu e uma amiga rimos muito com as vidas passadas dela, me mostrou até documentação farta. Fotos vestida de rendas caras e de frente para jardins japoneses e casarões de luxo, como uma autêntica pintura de Van Gogh. Sabe aquelas ruas medievais lindíssimas de cartões postais da Holanda,  Bélgica e Suiça? Pois é, tudo ao fundo, com aquela iluminação meio sépia da época que inventaram as máquinas fotográficas. No primeiro plano, minha amiga com um belo nome de duquesa italiana ou sueca, meio gordinha, no esplendor da moda do momento e esbanjando prosperidade.Pneuzinhos na barriga de fazer inveja às concorrentes da época.
Eu conheci um primo que nasceu na Argentina e combateu na Guerra do Paraguai. Ele conta que foi general, que mania, ninguém quer ser soldado raso, porque ninguém nasce soldado raso? Conta, inclusive que foi o autor da tocaia que deu cabo da vida do pobre Solano Lopez. Descreve a cena nos mínimos detalhes e com brilho nos olhos, tanto que sempre que vamos a uma reunião para beber, sempre digo para ele: "conta aquela da vida passada em que você foi argentino e combateu na batalha do Tuiuti". Meu amigo ri e conta sempre com os mesmos detalhes, o que me faz crer que é verdade. Sim, porque vida passada existe mesmo e eu fui um lorde inglês, disso não tenhamos dúvida.
Nunca ouvi falar de alguém que teve vida passada na América Latina; exceto meu amigo, ex-argentino. Alguém que fosse um chefe Inca no Peru, ou um Asteca do México. Existe opções charmosas, como ter sido uma grande cantora de ópera da Colômbia, porque não? Se o assunto recai sobre a América do Norte, sempre pulam o México e a Guatemala, e vão nascer no Canadá ou EUA. 
Agora, que tem a zebra de loteria aí, isso tem; como aquele dono de boteco, em Cabo Frio, cidade onde moro, que afirma ter tido vidas passadas no Congo, reencarnado na Bolívia e ter vivido 87 anos no Haiti. Inclusive conta detalhes e canta canções em Creolé, uma voz afinada de fazer inveja. Na soma das vidas passadas que já ouvi por aí, contei 49 Cleópatra, 18 Joana D'Arc, 26 Margareth Tacher, 21 Golda Meir e apenas uma Anita Garibaldi. Do lado masculino tem gente mentindo, falando que foi Steve Job; não acredito, ele morreu a menos de uma década! Os cálculos não batem.
E se a gente pudesse prever a encarnação futura? Alguém conhece alguma religião dando esse mole? Se eu conseguir entrar numa dessas, quem sabe, tenha feito um depósito para mim mesmo em barras de ouro 28 quilates, pronto para encontrar, neste momento em que me encontro brasileiro em plena era Temer. Pense bem, amigo leitor; eu, aquele duque alemão, riquíssimo, endereçando para mim mesmo 50 lingotes de ouro. Que maravilha; teria um pouco de paz nessa vida cheia de perrengues, que é a vida do brasileiro. Entrar no botequim do meu amigo, tomar um conhaque de marca boa enquanto ele me olha com espanto; "Meu irmão, que dinheirama é essa"? Eu simplesmente responderia: "Minha vida passada deixou pra mim"!


Jiddu Saldanha - 19.11.2016

domingo, 18 de setembro de 2016

RASTRO DE PLUMA - Novo livro de Jiddu Saldanha

"Rastro de Pluma" é um livro de haicais e tankas, escritos de forma livre, por Jiddu Saldanha, apreciador da literatura japonesa aclimatada ao estilo brasileiro, Jiddu é um velho militante da forma fixa haicai e tanka. Estudou tankas com Mitsuko Kawai e o Haicai, aprendeu na prática cotidiana, mas nutre grande admiração pelo mestre Paulo Franschetti, de quem jiddu não ousa se julgar discípulo, embora o admire tanto.
Com prefácio de Ricardo Silvestrin e Quarta Capa de Mário Pirata, "Rastro de Pluma" é o segundo livro de Jiddu Saldanha. Compre com o próprio autor.

Adquira por apenas R$ 20,00 - Escreva para jidduks@hotmail.com

 Poesia transnacional
(Ricardo Silvestrin)

                Aqui, está o refinamento de uma poesia que só pode nascer de um profundo silêncio. Não por acaso, o poeta Jiddu é um dos grandes mímicos do Brasil. O que é um mímico senão um maestro do silêncio? E, como tal, ele sabe reger dois tipos diferentes nesse livro: o haicai e o tanka. Num dos haicais:

descobrimento –
tudo já estava ali
na paisagem

                Basta ver para descobrir. Mas ver não é tarefa fácil. É preciso tirar da frente dos olhos as palavras, o rio de pensamentos ruidosos que nos cega. Não é preciso acrescentar discurso, muita subjetividade ao que já está ali. 

                Olha só:

Dia de calmaria –
os barcos descansam
da pescaria

                Essa festa silenciosa do olhar percorre todos seus haicais. Mas, atentem, silêncio aqui é diferente de introspecção. O haicai capta o que está fora do poeta. Melhor seria chamar, se houvesse o termo, exospecção. 
                A paixão por esse pequeno poema que nasceu no Japão há mais de quatrocentos anos segue viva e cultuada no mundo inteiro. Mas há uma outra forma da poesia clássica japonesa: o tanka. É nela que Jiddu vai beber para nos trazer outro tipo de silêncio, agora sim o da introspecção. 
                Veja esse:

foi assim que a vida
se apresentou para nós
em meio à fumaça

um tempo de vozes confusas
silêncios mal interpretados

                No tanka, o mundo nebuloso da subjetividade está presente. Mas, mesmo assim, a cultura japonesa não fez disso um poema verborrágico. É ainda silêncio, mesmo que mal interpretado. De novo, nosso poeta-mímico, aquele que é capaz de interpretar o silêncio.
                Com esses tankas, Jiddu traz uma grande contribuição para a nossa literatura. É uma sequência de trinta excelentes poemas. Não há muitos praticantes entre nós dessa forma que tem no Japão nomes como Takuboko Ishikawa e Machi Tawara. Lembro de uma bela sequência de tankas de Borges. Dos poetas brasileiros que conheço, li tankas esporádicos, não um conjunto forte, sensível e bem acabado como esse.

                Mais um:

de onde vem 
este medo de perder tudo?
não temos nada...

os pássaros ainda cantam 
e todas as manhãs estão intactas

                A consciência de que não temos nada, zen budista, anima tanto o haicai quanto o tanka. É essa comunhão mais profunda, filosófica, que une os praticantes das duas formas poéticas japonesas, como uma transnacionalidade espiritual, pelo mundo afora. Em cada uma dessas formas, o poeta, como o pássaro nesse tanka do Jiddu, "diz de seu instante":

o pássaro que canta 
nesta manhã tão fria e úmida
diz de seu instante

as folhas estremecidas 
lamentam o frio do outono


Ricardo Silvestrin - Poeta


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

HAIBUNS de Jiddu Saldanha

O Haybun é uma forma japonesa de poema, na verdade, uma prosa poética, onde o texto é seguido por um ou mais haicais. Aqui, a situação da escrita está adaptada para o jeito brasileiro de escrever. Regras complexas, resultado simples...



NOSTALGIA

Estou a um tempão fazendo um tour pelo facebook dos meus amigos de geração, a maioria com a minha idade ou mais velhos. Sabe aquela sensação gostosa, de nostalgia? Cada amigo que você vê/clica/curte, traz uma lembrança. Um sorriso. Propõe algumas lágrimas, também. É a sensação de que a vida está passando mas que, em todos os sentidos, valeu e ta valendo a pena. Chegar aos 51 anos, com este olhar bom, de que, apesar de tudo, fiz as escolhas possíveis e certas. Cada momento vivido, foi, com toda a simplicidade; como diria Paulinho da Viola, "um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar"!

- Meu coração
nem sempre se deixa levar
mas se deixa lembrar


(jiddu)

19.02.2016

*
OTIMISMO


De alguma forma nos perdemos, para depois nos reencontrarmos, este é o ciclo da vida e é assim que se escrevem os destinos. No final das contas, tudo vai continuar dando certo. Precisamos desse otimismo pra seguir dando passos necessários, que nos mantenham firmes em nossas crenças mais verdadeiras!

Desconhecido
é o caminho que leva o viajante
para sua morada

*
Canto do galo -
Ninguém está isento
da madrugada escura

*
Dia sem vento -
O sol traz a certeza
da vida simples


(jiddu)



ESPERANÇA

O que nos faz acordar radiante no dia seguinte, é a esperança, ela sempre morre por último. Se nossa esperança morrer, morremos com ela, morremos pra tudo que um dia sonhamos e acreditamos... a esperança é um "pózinho mágico" que só é visível aos olhos do coração!



Voa o pássaro -

no olhar do observador
a última quimera



25.01.2016


***********************
*
BRASIL

Meu amor pelo Brasil, sempre transcendeu ao futebol, apesar de ter sofrido tanto, mas qual o brasileiro que não sofreu? Somos uma nação unida em tudo o que nos falta, ainda que nos sobre a alegria e a teimosia de seguir acreditando, sempre!



Alegria, alegria - 

Todos os dias as sementes
florescem utopias

10 de Julho de 2014



*
VENTO

As vezes a gente percebe um vento contra vindo com toda a fúria; nessas horas, é preciso conhecer a arte dos cataventos!

.

Sudoeste chega -

Mas cada um constrói
seu catavento.

(Jiddu)

*
A ARANHA



Hoje matei uma aranha nephila que armou sua teia no jardim de casa. Minha vontade era pegá-la nas mãos e levá-la para algum abrigo na mata. Mas esse medo ancestral de aranhas nos mantém sempre em alerta. Principalmente quando se tem, na família, pessoas alérgicas.

O coração fica tenso, e bate apressado, a respiração embargada acompanha um sofrimento na alma, quando se tem de recorrer a uma atitude radical, mesmo que seja um bicho. 

As aranhas são mais antigas, talvez, do que nós, humanos, no entanto, ocupamos o meio ambiente em que elas vivem e não temos qualquer preparação para tratá-las com mais respeito.



Ignorância -
uma aranha no jardim de casa
encontrou a morte.
*
aranha nephila -
sua estranha aparência
causa medo.
*
jardim de casa -
uma aranha nephila
sem sorte.

21.01.2014