quinta-feira, 13 de junho de 2013

Arabela e Frajola - Capítulo VIII

Na comunidade, Berinjela é saudado por moradores em polvorosa; bandeirolas pretas e cartazes com palavras de ordem como “viva nosso herói”, “mate todos eles”, “somos todos Berinjelas”.  A multidão se acotovela para ver o orgulho do bairro. Gritos de “viva nosso guerrilheiro” ecoa por todo lado. Moças bonitas ostentam cartazes maliciosos com contornos de bocas mandando beijos, e frases; “gostoso”, “queremos você”, “nosso ídolo”, “tesão”. Adolescentes de boné, fazem passos de hip hop, como se fosse uma coreografia guerreira, dão-se as mãos numa complexa saudação, mostram força e poder. Dançam para Berinjela que os saúda com um gesto de hip hop, no muro mais adiante, vários grafiteiros trabalham coordenadamente uma enorme fotografia dele com uma boina estilo Ché Guevara.
Do meio da turba, uma voz de mãe grita “filhaaaaa, minha filha querida, você está aí”, a meninazinha com a boneca barbie salta do conversível e grita “mãe, mãe, te amo mãe”, as duas se encontram no meio da multidão e se abraçam enquanto o carro se afasta, aos poucos, a menina vai desaparecendo no meio da massa e acena para Arabela, ela corresponde e ouve a voz infantil ressoar do meio da multidão, “eu te amo Arabela, eu te amo, nunca vou te esquecer, você ainda vai ouvir falar de mim”. Arabela consegue ver os olhos inchados da mãe em lágrimas, até que as duas desaparecem como se fosse uma miragem.
Arabela, séria, empunha uma submetralhadora UZI  e olha atentamente por entre as pessoas. Seu olhar farejador busca os agentes de Mostarda, que possam estar infiltrados. Em seu ombro, Frajola permanece teso, orelhas em pé, bigodes arrepiados. Volte e meia, o felino levanta o focinho no ar para sentir o cheiro dos cupinchas do deputado Samir de Souza. Está tudo bem, ele pressente que não há perigo, relaxa no ombro, encolhe o rabo, enrolando-o nas patas de trás enquanto se equilibra e ronca próximo ao ouvido esquerdo de Arabela. Ela também relaxa e começa a curtir a festa em homenagem ao seu amado, faz uma sutil expressão de prazer, parece feliz ao ver que as meninas da comunidade acenam pra ele expressando um desejo sexual coletivo. 
A força masculina de Berinjela hipnotiza as mulheres e Arabela, excitada, enrijece o corpo, suas pernas engrossam, seus braços ficam tesos e com um gesto radical dá um soco no ar, e de sua garganta explode uma raiva que faz a submetralhadora cair a tiracolo, ela solta um grito,  “Morte aos corruptos”. As meninas, entendem a mensagem, levantam fortemente os braços e Arabela fica surpresa ao perceber que todas elas portam metralhadoras. Os dedos nos gatilhos ao mesmo tempo produzem uma chuva cliques numa simulação de tiros pro ar enquanto gritam num coro que cobre toda a multidão, como um manthra. “SOMOS TODAS, A R A B E L A S”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário