sábado, 19 de novembro de 2016

Sobre minhas vidas passadas e porque não, futuras?

Por Jiddu Saldanha

Não conheço ninguém que tenha tido uma vida passada que não fosse de riqueza e poder. Eu mesmo já fui um centurião aposentado na antiga Roma, um poeta da corte de Henrique V, na Inglaterra, e parece que quando Trotski mandou matar a família real russa, eu era um conde riquíssimo que foi perdoado e desterrado para viver na Hungria, onde tornei-me um grande bem feitor e riquíssimo dono de imóveis e terras. Parece que a sacanagem começou quando nasci no Brasil.
Aliás, outro dia eu e uma amiga rimos muito com as vidas passadas dela, me mostrou até documentação farta. Fotos vestida de rendas caras e de frente para jardins japoneses e casarões de luxo, como uma autêntica pintura de Van Gogh. Sabe aquelas ruas medievais lindíssimas de cartões postais da Holanda,  Bélgica e Suiça? Pois é, tudo ao fundo, com aquela iluminação meio sépia da época que inventaram as máquinas fotográficas. No primeiro plano, minha amiga com um belo nome de duquesa italiana ou sueca, meio gordinha, no esplendor da moda do momento e esbanjando prosperidade.Pneuzinhos na barriga de fazer inveja às concorrentes da época.
Eu conheci um primo que nasceu na Argentina e combateu na Guerra do Paraguai. Ele conta que foi general, que mania, ninguém quer ser soldado raso, porque ninguém nasce soldado raso? Conta, inclusive que foi o autor da tocaia que deu cabo da vida do pobre Solano Lopez. Descreve a cena nos mínimos detalhes e com brilho nos olhos, tanto que sempre que vamos a uma reunião para beber, sempre digo para ele: "conta aquela da vida passada em que você foi argentino e combateu na batalha do Tuiuti". Meu amigo ri e conta sempre com os mesmos detalhes, o que me faz crer que é verdade. Sim, porque vida passada existe mesmo e eu fui um lorde inglês, disso não tenhamos dúvida.
Nunca ouvi falar de alguém que teve vida passada na América Latina; exceto meu amigo, ex-argentino. Alguém que fosse um chefe Inca no Peru, ou um Asteca do México. Existe opções charmosas, como ter sido uma grande cantora de ópera da Colômbia, porque não? Se o assunto recai sobre a América do Norte, sempre pulam o México e a Guatemala, e vão nascer no Canadá ou EUA. 
Agora, que tem a zebra de loteria aí, isso tem; como aquele dono de boteco, em Cabo Frio, cidade onde moro, que afirma ter tido vidas passadas no Congo, reencarnado na Bolívia e ter vivido 87 anos no Haiti. Inclusive conta detalhes e canta canções em Creolé, uma voz afinada de fazer inveja. Na soma das vidas passadas que já ouvi por aí, contei 49 Cleópatra, 18 Joana D'Arc, 26 Margareth Tacher, 21 Golda Meir e apenas uma Anita Garibaldi. Do lado masculino tem gente mentindo, falando que foi Steve Job; não acredito, ele morreu a menos de uma década! Os cálculos não batem.
E se a gente pudesse prever a encarnação futura? Alguém conhece alguma religião dando esse mole? Se eu conseguir entrar numa dessas, quem sabe, tenha feito um depósito para mim mesmo em barras de ouro 28 quilates, pronto para encontrar, neste momento em que me encontro brasileiro em plena era Temer. Pense bem, amigo leitor; eu, aquele duque alemão, riquíssimo, endereçando para mim mesmo 50 lingotes de ouro. Que maravilha; teria um pouco de paz nessa vida cheia de perrengues, que é a vida do brasileiro. Entrar no botequim do meu amigo, tomar um conhaque de marca boa enquanto ele me olha com espanto; "Meu irmão, que dinheirama é essa"? Eu simplesmente responderia: "Minha vida passada deixou pra mim"!


Jiddu Saldanha - 19.11.2016

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