sábado, 8 de junho de 2013

A Arte de Ser Ignorado


O filme “O Enigma do Colar” cujo título original é The Affair of the Necklace, numa intrincada trama capa-espada, insinua que a rainha da França, Maria Antonieta foi guilhotinada por ter ignorado a protagonista. Mas não posso contar o filme neh?
Qual a sensação de ser ignorado? Como conviver com este sentimento de dor e decepção? Não posso falar por todos, no entanto, relato aqui algumas experiências genéricas para ilustrar esta crônica.
A primeira e, talvez, pior forma de “ignoramento” é quando, na adolescência; a garota por quem se está apaixonado vem e relata ter saído com o seu melhor amigo, isso parece clichê de telenovela, mas dói, gente, e como!
Não bastasse a total falta de sono e lágrimas da noite anterior, a desgraçada vem sorrindo no dia seguinte e conta como foi o primeiro beijo e dali uns cinco minutos quem aparece na tua frente beijando a “Desdêmona”? O próprio. Um horror! Trauma para o resto da vida...
Meu pai contava que os oficiais nazistas, quando combateram na frente russa, nunca mais foram os mesmos; tinham sido ignorados pelo Fürer na tentativa de alertá-lo sobre o risco da precipitação. Já o meu gato, o Flechinha, não aceita ser ignorado, seu miado pode atravessar uma mata escura em noite de lua cheia (confesso ser ridícula esta imagem do gato em noite de lua cheia, peço que ignorem...).
Dizem que o desabamento na serra do Rio de Janeiro fora avisado com muita antecedência e já era previsível há mais de 40 anos. Os apagões que queimaram todas os computadores e bombas de água da região dos lagos, antecedem a própria invenção da eletricidade. O hino nacional parece que nasceu para ser ignorado, principalmente pelos jogadores de futebol e atletas olímpicos!
Bom, paranoia à parte, ser ignorado tem seu lado bom.
Conheço uma pessoa que quando pega um ônibus ou para num orelhão, faz uma oração para ficar invisível. Medo de assalto. Será que funciona? Eu conheço a oração dos endividados agora, para ficar invisível, não; se alguém souber me manda, no Brasil de hoje, uma reza assim pode nos tirar de uma roubada, principalmente agora que é moda deixar número de CPF, o documento mais visível do planeta; em tudo quanto é lugar.
Eu suporto todo tipo de “ignoramento”, mas nenhum é pior do que o do facebook. Você escreve para a pessoa no dia 23 pela manhã e ela responde duas semanas depois pra dizer que está ocupada e não pode “falar” agora e ainda joga na tua cara que está com a agenda cheia!
Mas como sou daquelas pessoas irritantemente otimistas; Gosto de pensar que nada pode ser ruim neste mundo de egos onde ignoramos e nos ignoram (ainda que por vingança). No final das contas, viver em grupo, virtual ou não, sempre nos coloca frente a frente com o outro e isto é, talvez, a única experiência da vida pelo qual realmente valha a pena viver.

Jiddu Saldanha
06.06.2011

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