sexta-feira, 31 de maio de 2013

Arabela e Frajola - Capítulo III

Capitulo III

No banheiro, Arabela cansada, liga a água quente que cai copiosamente sobre sua pele, ouve o chiado e vê o vapor subindo, fecha os olhos, sensação de prazer, decide tomar banho de banheira. Pega os sais, se esparrama, faz massagem nos pés e olha para o teto; estica a mão molhada ao lado do bidê e pega um álbum plastificado com fotografias de Frajola. Contempla-o ainda bebê, do tamanho de um camundongo, sua enorme cabeça, as orelhas e o corpinho magro. Depois Frajola já adolescente, brincando com o novelo de lã, fotos, fotos e mais fotos. Frajola agora é adulto, usa uma gravatinha vermelha, Frajola está sentado em frente à TV, Frajola dorme num travesseiro branco e felpudo, frajola dá tapas numa orquídea, frajola come um rato inteiro, frajola com suas patas arregaçadas mostra unhas como pequenos punhais. Arabela ri, chora, gargalha, fala com as fotografias.

***
A campainha toca. Arabela veste o roupão e vê frajola ao lado da porta de entrada da sala, está tranqüilo e sonolento. Ela puxa a maçaneta com cuidado, uma cesta de vime descansa do lado de fora sobre o tapete. Frajola cheira detalhadamente cada item da sexta. Não há sinal de perigo, ela recolhe a cesta e a coloca sobre o sofá: Chocolate amargo, pãezinhos recheados, uma garrafinha de licor, um arranjo de fitas encarnadas e um cartão feito à mão com bordado fino de fios de ouro, abre o cartão, a letra elegante de Berinjela toda em minúscula, um haicai.


“Sentido da vida –
To chegando para não ter
despedida”


(J.)

O Bilhete sobre um cartão de pepel poroso e branco.
“minha deusa, to chegando de vagar na tua vida pra te encher de amor, te segurar firme, quero te dar uma chave de abraço te derrubar no chão e começar contigo algo pra toda vida”.
Arabela chora copiosamente, suas lágrimas inundam a sexta, seus olhos ardem, sua pele vai mudando de tom, seu coração dispara. Arabela abre a cortina, a luz do entardecer entra com raios ainda quentes e iluminam ainda mais o cartão sobre a sexta. A campainha soa novamente, ela abre quase que no automático e cai nos braços de Berinjela, ele a suspende no ar, beija-a com força, ela arranca-lhe a camisa branca e arranha seu peito nu, ele acaricia seu rosto, morde seu pescoço, segura bem firme sua cintura, ela morde sua boca, lambe sua cara, aperta seu pênis com o ventre. Rodopiam pela casa até a lavandeira, depois no corredor, no quarto, voltam pra sala. Arabela monta em Berinjela, rebola em seu quadril, aperta seus braços. Ele encaixa a mão direita nos seios dela pela, acaricia sua pele com a língua, penetra-a bem fundo e engole o outro seio, depois o outro, um por vez até escutar seu gemido de fêmea no cio. Arabela goza, Berinjela goza. Comem chocolate, tomam licor, assistem juntos O Ultimo Tango em Paris. Voltam a fazer amor pela madrugada a dentro. Bebem outra garrafa de vinho.
Na cama, deitados lado a lado, incenso aceso, a fumaça com cheiro de hortelã.
“Eu tava te querendo há muito tempo”, “Percebi, mas sou mulher difícil”, “To puro pra você minha deusa, não comi ninguém desde que te conheci”, “Eu estava criando teia de aranha, nenhum homem me interessava”, “Agora você é minha”, “Êepa, também não exagera, não sou de ninguém, sou de mim mesma”, “Você é selvagem, Arabela, você castiga os homens”, “Sou uma mulher, estou vivendo minha vida”, “Tua vida ta na minha agora”... passaram a noite se tocando, falando, bebendo adormeceram sob o olhar sorrateiro e vigilante de Frajola. Depois acordavam e faziam amor novamente, bebiam e faziam juras, o tempo parecia ter parado para eles.
De manhã, o café na cama, Berinjela romântico, Berinjela apaixonado, Arabela, guerreira, vive intensamente aquele momento de pausa. Frajola circula pela casa, vasculha cada canto, tudo parece bem, ele se concentra em seu leite matinal. A TV, ligada. O repórter policial fala com voz gritada: “Ninguém sabe o paradeiro da serial Killer que ataca com um gato preto, os funcionários do supermercado disseram que ela estava com o demônio e que enfeitiçou o açougueiro, ambos promoveram uma chacina dentro do supermercado. O deputado Samir de Souza disse que vai abrir uma sindicância na polícia, pois a tal assassina do bichano é ex-policial”.
Arabela esfrega os olhos, vê a notícia junto com Berinjela, em silêncio, presta atenção em cada na reportagem. “Esse filho da puta desse deputado está chantageando a corporação”, mandou o Mostarda me pegar. “Vamos nos unir nisso, o Mostarda matou minha mulher e minhas filhas, meu coração quer vingança”, “O Mostarda é peixe pequeno, briga pessoal, vamos matar o deputado primeiro, depois a gente mata o secretário de segurança pública, eles fazem parte da quadrilha da luva. Esse povo é ruim, vamos matar eles e o povo de Porto City vai fazer uma estátua em nossa homenagem”, “Eu tenho o nome o endereço e sei como chegar na casa de cada um, mas pra fazer isso vamos ter que chamar o Amparo”, “deixe o Amparo fora disso, ele leva para o lado pessoal não quero tortura, o negócio é uma bala na cabeça de cada um e pronto, precisamos de gente fria e treinada, tem que ser uma galera que não se conheça entre si e que tenha uma meta em comum, acabar com a quadrilha da luva”, “Isso, vamos invadir a câmara de Porto City, podemos matar todo mundo, vamos levar bombas, vamos acabar com esses políticos de merda, vamos convocar a população para uma guerra civil”, “Não, não quero saber de política, de revolução, to fora, vamos comer o cu da esquerda e da direita mas sem politicagem, sem discurso, senão o povo vai acabar canonizando essa corja”, “Eu te amo, Arabela, eu te amo”, beijam-se de língua, abraçam-se com sofreguidão.


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