sexta-feira, 31 de maio de 2013

Arabela e Frajola - Capítulos IV e V


Capitulo IV

Jornal Serra da Morte

“Ninguém sabe até agora quem é a mulher invisível que ataca super mercados acompanhada de um homem grande e uma gata angorá de cor cinza – Veja matéria completa na página 4.”

Revista Centavos Novos.

“Especialistas debatem prejuízos que boatos causam para a economia e usam   como exemplo, a assassina do gato – Leia nosso editorial de hoje.”

Jornal da Família Portocytiense

“Invista na qualidade de vida, saiba como se proteger de animais soltos pelas ruas, veja nossa especialista em simpatias, como lidar com gatos pretos em noite de lua cheia – Coluna do Leitor”.

O Apocalypse

“Saiba mais porque, animais de estimação são coisas do demônio – Coluna da Verdade e da vida”.

Na banca de jornal, Arabela folheia todos os periódicos e dá muita gargalhada, Honório, curioso, começa a ler as manchetes em voz alta com seu forte sotaque português: “o pa, o que estão a dizeiere os meios de comunicação sobre essa chachôpa que mata gatos”, “a mídia tira proveito da situação sempre”. Do outro lado da rua, um Fiat pálio cinza derrapa, depois de fazer uma curva fechada e frear abruptamente. Frajola salta de cima das pilhas de jornal bem no ombro de Arabela e vai se equilibrando até se posicionar em seu colo. Ambos se dirigem ao carro que abre a porta e fecha imediatamente, dentro do carro, Berinjela tira os óculos escuros, vira a cabeça para trás e vai falando com ela enquanto dirige em alta velocidade. “Dois AK 47, um AR15, Uns 8 tipos de pistolas, nem sei pra que servem”, “pra matar, nós vamos matar”, “consegui uma 12 cromada especialmente pra você porque sei que você gosta”, “gosto mas só uso a minha”, “tem um saco debaixo do meu banco, são pentes de bala e munição à vontade, de todos os tipos”, “você trouxe as granadas?” “sim, temos 18 granadas de mão, você acha que vai precisar de mina terretres?”, “não, esse papo de mutilar criancinha não é comigo”, “mas fuzil com mira telescópica só tenho uma e se você não se importar, minha deusa, eu gostaria de usar”, “pode usar, confio no meu taco, não gosto de frescura, comigo é na base do Téte a Téte”.
Num bairro distante, Berinjela manobra o carro para dentro de um galpão, no final de uma rua de barro. Mostra para ela os coletes à prova de bala e em seguida abre um lap topa e aponta, num mapa do Google, todas as entradas para a câmara dos deputados. Depois, abre um gráfico com nome, fotografia e descrição das pessoas que vão morrer. Arabela parece desinteressada enquanto Frajola trava uma luta mortal com uma ratazana enorme, num dos cantos do galpão. Berinjela começa a acariciar o seio de Arabela e ela parece, agora, se interessar mais no assunto, fazem amor ali mesmo e depois começam a vestir as roupas de látex e encaixar todos os tipos de arma e dispositivos de guerra em seus corpos. Baionetas, pentes de bala, coletes, luvas, dispositivo para visão noturna, capacete de minerador, corda de alpinista. Uma mochila principal e uma bolsa tiracolo extra. Berinjela vai ao fundo do galpão, tira um controle remoto das mãos e aperta o botão e der repente a parede se transforma numa imensa porta automática que se abre lentamente, deixando aparecer um carro prateado ultimo modelo mas sem marca e com placa falsa.
Os dois se beijam recostados no pára-choque, ele abre um espumante, puxa dois copos e bebem juntos, entram no carro que desliza suavemente para a saída do galpão até desaparecer no meio da escuridão.

Capítulo V

Frajola aparece com um pedaço de carne podre na boca, Berinjela examina com cuidado; ela ainda se contrai. Está viva. Com uma consistência de nervo e músculo dá pra ver que é um pedaço da barriga de uma perna. Arabela estica seu AK 47, e cutuca a carne, meio escura, com sangue talhado nas bordas. “O que é isso?” , “Um pedaço de carne humana” responde Berinjela, bem taciturno. “Isso não está me cheirando bem tem algo muito sombrio no ar”.
Frajola agora está deitado e respira forte, parece ter alguma constipação animal, Arabela, puxa uma maleta de primeiros socorros e aplica-lhe uma injeção e observa-o em silêncio, depois pega seu corpo minúsculo e coloca no banco de trás do conversível. “Fique aí, você vai ficar bom, te vejo lá dentro daquele inferno”, mal termina a frase e já está cheia de ódio, dá um grito de guerra, engatilha a metralhadora e sai atirando na direção da porta de vidro. Ela percebe um grande movimento de pessoas andando a esmo, lá dentro. Berinjela joga uma granada contra a fachada que se estilhaça, provocando uma reação em cadeia por toda a vidraça do primeiro andar do prédio.
Subitamente, dezenas de pessoas começam a despencar para o lado de fora, elas estão sangrando pelo nariz e com os olhos muito vermelhos, não esboçam reação de qualquer natureza, apenas rolam pelas escadarias, depois levantam e continuam cambaleantes na direção deles. Vão se aproximando e soltando urros estranhos. Berinjela joga mais uma granada que explode e dispersa todo mundo, abrindo um flanco pelo centro daquele aglomerado de gente. Eles dão saltos, rabos de arraia e vôos de dragões, acertam cabeças, empurram peitos e com chutes e rasteiras abrem espaço e conseguem ver o que realmente está acontecendo, estão enfiados no meio de uma multidão de zumbis, homens, mulheres, crianças, com expressões horrendas, sangue no rosto, dentes pútridos, pedaços de pele com sangue marrom se misturando com roupas de grife.

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